sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Fulgido Lucido

A vida quase nada. Rara. Dada. Farta.
Ainda assim nada. Quase nada. A vida tão rasa.

Eu caminhei durante algumas horas da madrugada pela cidade com aqueles companheiros tão antigos de cachaças. Minha cabeça em outra estação, eu tinha muitas historias para contar.  Muita vida para viver. Cigarros e algumas taças de vinho barato em cima da mesa. Os companheiros nada animados falando sobre os frangos e os ovos estalados do almoço de hoje. Nenhum entusiasmo. Este é um momento de introspecção me disseram. Para que tanta agitação? E tudo farfalhando no aqui dentro. Mas esta tudo bem, esta tudo assim tinindo de amor e, uma tranquilidade na respiração, no perceber os dias se consumindo e o meu corpo morrendo todo dia mais um pouco.

Em mim brotam rosas
Musgos nascem abaixo dos meus pés
A minhoquinha em dias de chuva penetra os ouvidos
Abaixo das axilas as lagartixas passeiam
E de dentro do nariz dezenas de boroletas saem para voar ao sol.

Eu caminhei durante algumas horas da madrugada com aqueles companheiros de festas. E nos seus caminhares pisando o asfalto eu escutava retinindo a ansiedade de encontrar algum sentido para a vida. Aquele momento se destruindo e a mistura de bebidas para fazer alegrar a vida. Eu tinha muitas historias para contar. Aquele olhar que me atravessava de incomodação. As historias de cima na serra, atravessando o rio com a canoa, os sabores na minha boca. Tudo fulgoroso, apenas no de dentro de mim. Os companheiros procurando algum motivo para pegar a manga  verde do pé. Fazer uma ceia na avenida com a mesma insatisfação de fumar um cigarro sem vontade, apenas para ver o papel pegando fogo. Eu estava ali, cheio de historias. Os postes, os barcos revirados e o mar assobiando à chuva. Os maltrapilhos querendo dar as mãos, sentar junto a mesa, fazer companhia naquele pedaço de vida cintilando diante dos meus olhos. As historias que eu gostaria de escutar naquela madrugada.

Cinco estrelas acima do céu
E aqui embaixo a prata prefulgente
Queimando a calçada turva
Porque tudo é tao nitido sobre a testa?

Eu caminhei durante algumas horas da madrugada com aqueles companheiros que não sabiam absolutamente nada. Insistindo por alguma alma que lhes dessem abrigo e sexo. E há tanto sexo nas ruas. Ouvia-se os latidos no fundo, que a mim parecia qualquer coisa tal qual o zumbindo de uma mosca rodeando em cima da torta de maçã: Queremos ser felizes. Eu tinha tantas historias para contar. E ali a garrafa de alcool que nao secava pela trivialidade das conversas e o mal estar de não ter mais nada a fazer, diante da conformação de se estar infeliz. Dentro da carne aquele desprezo incalculável dos companheiros pela própria insensibilidade do corpo. A esquizofrenia como um maleficio destrutivo. E tantos poetas mortos. A criatividade desistindo pela incapacidade de não se deixar ser nada. Eu sonhava em voltar para debaixo do teto. Cama e lençol, a comida quente e aquele barulho de água caindo por sobre o telhado.

Marfim era o galo
Lilás o dromedário
Dourado o cavalo
Vermelho era o boi

Eu caminhei durante algumas horas da madrugada com aqueles companheiros mortos. E em cima dos meus ombros muito peso. Muitas cidades, e poucas histórias. Eu tinha muitas histórias. Aquela das montanhas, da bala perdida invadindo o teto de casa, a da faca perfurando a carne viva, o do amor flamíneo feito adaga irrompendo o bruto músculo. A minha volta meia duzia de cadáveres em um beliche. Implorando mais uma vez por vida. Era preciso esfolar o corpo para deixar que o liquido quente e viçoso escorresse pelas pernas frias. Estupido desejo o dos mortos. As chaves de casa, o sol  brilhando os brinquedos do parque. Minhas mãos sobre o peito. Lapso efeito. Amanhã tudo será desfeito. Eu tinha tantas historias. O desejo.

As crianças brincando
Jabuticabeiras, Araçás
Um fio de cabelo antigo
O cheiro de café coado
Os panos de chão na janela
Limoeiros e Taperebás

Eu caminhei alguns minutos durante o dia de volta a casa. Os companheiros com suas lapides. Fracos na vida, fracos na morte. Eles bem que tentaram, todo mundo tenta um dia.  E depois o debaixo da terra. A vida uma via de repetidos acontecimentos. O truque extraordinario. Um taxi rumo a qualquer avenida. Movendo o movimento. Apaixonada trama bordada. Rachaduras e delicadezas. Destemida existência de ser. Eu tantas historias para contar. Um mundaréu de sonhos para transcrever.

Os crisântemos amarelos.Ossada ressignificando o tempo. Feito ilibado
Irradiado brado. Tudo dado. Fulgido Lucido Raro.












terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Palito de fosforo queimando na obscuridade

Imagina, a gente pensa que esta protegido em todos os lugares, por conta de uma ideia civilizada de que nao podemos sair por ai, matando as pessoas com um foice na mao, uma arma a tira colo. E ainda assim ha tanta gente morrendo pelo mundo afora, sendo assassinada dentro do metro, na rua indo comprar pao na padaria da esquina, nas boates da cidade, ou enquanto estao dormindo aquecidas por seus cobertores de algodao, deitadas sobre a almofada de pena de ganso.
Teodoro tinha 25 anos quando resolveu sair de casa. O cafe da manha,a tapioca com queijo, a minuscula maleta de roupas velhas, e uma caixa de livros com a bibliografia incompleta de Charles bukowiski. A bota gasta pelas andancas e um suco concentrado de manga. A mae havia lhe alertado sobre a malicia do mundo: Ha tanta gente ruim espalhada nesse planeta meu filho. Te lembras daquele filme? gente mal intencionada, se fazendo de cordial para matar a troco de nada. Toma cuidado! Fique sempre alerta, e cuidado por onde andas.
A vivacidade juvenil de Teodoro nao acreditava  nas maldades dos filmes de terror que permeavam o pensamento de sua mae.
Tudo bem mae! Eu to protegido! Vou prestar atencao em tudo. Nao te preocupes...e no mais reza por mim sempre.
Teodoro uma passagem de aviao. Cinco pratos de comida. Um dorme aqui e acolá. Teodoro o primeiro aluguel. As noites de verao com muito calor deitado sobre o chao gelado da casa. As estrelas no ceu. Teodoro uma vida inteira pela frente, com as prostitutas da zona 39. Nas igrejas de Imaculadas Redencoes. Um gole de cerveja, uma carteira de cigarro.
Os dias de Teodoro contemplando o verde mar e o voar dos passarinhos em dias de chuva. Um brinde!
E Teodoro um pedaco de pao, uma batata cozida com cebola e alho. Um café ralo sem acucar. A madrugada com os putos da cidade. Uma ceia farta de jantar. Um banho de agua quente. Champanhe e profiterolis. Sempre quiz comer profiterolis. Um dinheiro no bolso e o bolso vazio. A falta de comida na geladeira, a perca de 10 quilos na semana. O sangramento na gengiva por falta de vitamina C. Teodoro e um abacaxi bem doce, uma laranja gelada na boca. O despejo da casa. As baratas caminhando por sobre as panelas. Charles Bukowiski. A mae orando em casa: Deus esta contigo meu filho.
Teodoro o filho de Deus. Um rapaz de tantas vidas.
(..) Eu joguei fora um material horrivel, mas nao tao horrivel como o que eu leio nas revistas, eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais que nao  me deixara fingir uma coisa que nao sou- o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa na poesia e o racasso de uma pessoa na vida, e quando voce falha na poesia, voce erra a vida, e quando voce falha na vida, voce nunca nasceu nao importa o nome que sua mae lhe deu. As arquibancadas estao cheias de mortos, aclamando um vencedor. - 
O emprego de balconista do supermercado do bairo. Teodoro definhando e tanta vida la fora: Uma bota nova para dar novo sentido a existencia. Aprumado. Uma colonia no pescoco para encontrar Maria, Livia, Janaina, Caetano e Joao. Teodoro no entardecer solitario rindo das palmeiras balancando. Da fruta sendo comida pelas formigas. Teodoro banhando-se na chuva, juntando os poucos centavos para comprar as miniaturas do salao de artesanias. Teodoro e a vida cheia de esperancas e novidades.Um aparecer e desaparecer.
A historia da humanidade. Um livro. A enciclopedia do mundo. O seu.
Camaleao atravessando a selva de pedra. Uma feijoada no fogao. A tigela de acai com farinha e peixe.Teodoro cavalgando um peixe-boi nas noites iluminadas do Marajó. Teodoro distante dos bufalos, dos caranguejos, e das canoas nos dias de domingo. Da sua mae dizendo: tu nao tens ideia de o quanto eu te amo menino.
Teodoro devorando o quintal de casa. O mundo. Abrindo a porta. Longe do lar, e dos risinhos travessos dos irmaos. Teododro um manto de estrelas. Os jovens desaparecidos. O heroi nacional assassinado. A oportunidade que nao pode ser adiada. A aversao a rotina, aos valores preestabelecidos. O sentimento de liberdade. Teodoro o foguete. O cometa cruzando o atlantico. Estrela soturna cadenciando em algum lugar da america latina. A mae dizendo: Nao te metas em aventuras perigosas e inconsequentes. Teodoro a faca no pescoco, a briga na rua. Teodoro embriagado jogando-se ao mar. Tres horas da madrugada. Teodoro e uma concha na cabeca. As pessoas. Teodoro revoltado com o nascer do sol e os risinhos de felicidade nas noites de verao. O desejo suicida. A morte distante. O dia longo. Os minutos eternos nos sonhos esquizofrenicos de Teodoro. Caco de vidro. A cocaina fazendo mal a saude. O povo la fora cantando. Teodoro e os nao me toque. A possessividade dos pensamentos. As flores desabrochando no quintal. A mae dizendo: Quando tu eras pequeno, eu depositei tanto amor em ti, que nada de ruim na vida te afetara. Fostes benzido, meu amor, benzido.
Teodoro e as crencas populares. O mastruz com leite. As bonecas de papel atras da porta para fazer o temporal cessar. O tabaco em frente a porta de casa para as Matintas, e a agua de cheiro no topo da cabeca nos dias de quadra junina. Teodoro e os cem mil anjos rodeando o seu corpo. A simpatia da fala sincera. O corpo carismatico no andar desajeitado de alguem que nao sabe, mas quer ser feliz. Teodoro e a cancao secreta contra as mazelas do mundo.
Imagina, que a gente se acha tao forte, tao donos de si, que quando menos esperamos, um bicho de pe fura a pele, uma bacteria deixa em coma centenas de pessoas no Japao, e o ebola assola o continente africano. O museu Nacional pegando fogo. O sadam Hussein sendo enforcado. O dinheiro nao podendo salvar a vida dos entes queridos. Os milhoes de desempregados pela falencia empresarial.
Quando Teodoro chegou na casa de Vicente, pensou o quao seria maravilhoso sua estadia ali. Vicente lhe mostrou a casa, o quarto, a piscina, a sala de esportes e video,  e a dispensa farta, avisando-lhe de sua viagem por duas semanas para outro Estado.
Pessoas gentis no universo, dividindo um pedaco de pao, um lugar para dormir, doando roupas, sapatos, e um chá quente para esquentar o estomago. E ainda existem pessoas que reclamam  da existencia. Dadiva. Teodoro uma mansao. Os melhores canais de televisao do mundo.Os agradecimentos a Deus por todos os dias de vida ate aqui. O desejo de chegar aos cem anos de idade. Teodoro e os minusculos sinais do tempo sobre a pele. Sempre a lembranca da mae, desde o dia em que saiu de casa: Cuidado meu filho. Cuidado! Fique atento nas perversidades.
Teodoro no entanto, acreditava na ternura, na bondade e no desejo que a humanidade tinha de alcancar a paz e beatitude espiritual. Ele mesmo buscava a sua. O sonho de uma casa no mato. Um lugar tranquilo para sonhar. Uma tartaruga, aves no quintal e uma cotia. Mas agora Teodoro.  Uma maca no estomago, os cinquentas centavos na rua para comprar bombons. Os coqueteis nas aberturas de vernissagens. Teodoro miseravel, e suas pernas o automovel nas grandes cidades. Teodoro e as coisas que ninguem nunca fez. Teodoro sórdido e virtuoso, feio, mal. Iluminado. Luz solar. Fogo. Teodoro sangue de coracao. Abajur pegando fogo no quintal. Teodoro de pes descalcos por sobre os limos dos manguezais. Teodoro e a lua cheia brilhando na janela do quarto. O livro de ecologia para salvar o planeta. Teodoro e as dozentas tribos indigenas do Brasil. Um passaro vermelho sobrevoando os ceus de Belém. Uma cobra encantada nos igarapes.
Imagina, a insatisfacao e infelicidade da populacao urbana nos ultimos anos aumentando os indices. A terra umidecida pela chuva, os beija-flores e abelhas sugando o nectar das orquideas, os espermatozoides fecundando óvulos. O cheiro do bolo de laranja, A uva doce adocando o paladar. Na faixa de Gaza o conflito secular- tantas mortes.As mulheres sendo espancadas por seus maridos, e as criancinhas na Italia molestadas pelos padres. As pessoas boas perdidas no mundo. Tantos sonhos aniquilados. E homens e mulheres jovens e velhos ojerizando a experiencia de estar vivo. De comer o ovo, o arroz e o feijao de todo dia. Bradando contra a vida pela falta do cigarro Holliwood de todos as semanas. E sao tantos  os que agora  estao atormentados pela leucemia. Pelo estagio terminal do HIV.
Terminar sozinho no tumulo de um quarto sem cigarros nem bebida- careca como uma lampada, barrigudo, grisalho, e feliz por ter um quarto...de manha(...)
Nesse dia Teodoro havia chegado muito cansado, depois de uma longa caminhada pelo bairro historico da cidadela. Tomou banho, um café com leite. Ligou o som, e deitou-se na cama para descansar. Fazia um frio como jamais tivera experimentado. Despreocupado, dormiu sem trancar a porta do quarto de onde estava hospedado- acao que nunca deixava de realizar todas as noites , após exaustos passeios pelas ruas. Os carros la foram silenciavam aos poucos, e só ouviasse os apitos espacados dos vigilantes com suas bicicletas circulando entre os becos. As nuvens encobriam as estrelas. Teodoro um gato no telhado. Teodoro o caminho tao longo. O palhaco no circo. As noites de amor que jamais esquecera. Teodoro e as pessoas no fundo sao boas. Teodoro o relogio na parede. Teodoro e os sonhos de menino nunca realizados. A casa na arvore, as escavacoes no patio da escola para encontrar fossil de dinossauros. Teodoro um menino de asas. E os muitos desejos a papai do céu. A sua mae com a roupa cintilante na virada do ano de 1989. Cabelos longos. A gargalhada tomando conta da casa, invadindo os apartamentos vizinhos. Feliz ano novo. Feliz Ano novo. E a mae falando baixinho: Meu menino, como tu crecestes! Mas para mim sera sempre aquele. Arredio, com os olhos de bicho desconfiado. O mundo te dói filho? Saiba que eu estarei sempre aqui. Teodoro, O dono de si. Nao mamae nao ha o que temer. Nao deve haver medo de nada. Teodoro e os dias de medo das  coisas. Do rato entrando noguarda-roupa, de se olhar no espelho de madrugada. Do jeito do pai que parecia fulminar a presenca do menino em todos os lugares.
E de repente se escuta um barulho na casa. Teodoro acorda assustado, mas nao move um musculo. Passos, barulhos de pegadas se aproximando. Teodoro e o coracao acelerado. Teodoro e o esquecimento da porta que nao fora trancada.
Há um passaro azul em meu peito que quer sair, mas sou duro demais com ele, eu digo, fique ai, quer acabar comigo? (...) há um passaro azul em meu peito que quer sair, mas eu sou muito esperto, deixo que ele só saia em algumas noites, quando todos estao dormindo. Teodoro e tudo escuro, apenas a respiracao ofegante. E a lembranca antes de sair de casa há oito anos. Meu filho tem tanta gente ma no mundo, que a gente nem desconfia. Teodoro e a respiracao ofegante. Teodoro e os livros sobre seriais killers. Teodoro e o pensamento insistente. Pessoas boas , pessoas más. Pessoas crueis que matam a troco de nada.
O passo se intensificando em direcao a porta do quarto. Teodoro e Vicente. Teodoro e as estrategias para se levantar antes que a porta se abre. O colar no pescoco, patuá. Tres oracoes sobre o peito. Meu Deus me ajude. E todos os santos. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte. Teodoro e uma cancao na memoria. Ele nao sabe que seu dia é hoje. Ele nao sabe que seu dia é hoje. Abrem a porta. Teodoro e seu assassino. Nao pode ser verdade meu filho. Uma faca. Teodoro sem forca. Sangue. Gritos. Teodoro e a vida cheio de enigmas. Choro. Do outro lado da America. Teodoro um corpo no chao. Sua mae: Eu te amo e sempre vou te amar. A gente se conhece há tanto tempo meu filho. Teodoro. Teodoro. O galo canta. O boi muge. É um novo dia. É um novo dia. O dia acorda. Teodoro também. É um novo dia.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

vela acesa em um pueblo

Um pingo de salsa caiu na minha blusa. Desastre. Lembrei da crianca com as maos, a boca e a roupa melada pelo sorvete de acai nos dias de domingo, da torta de baunilha no restaurante,  a mamae dizendo: Nao aprendeste  a comer feito gente. Com essa idade e a mania feia de meter a mao na comida, se lambuzar todo. Tu nao aprendes né? Que bonito aquela coisa de se melar, deixar a roupa manchada, e isso tudo de comer com a mao.Usar dedos como garfo e faca. Depois a mae reclamando que nao dava pra tirar as manchas da roupa e tudo mais, as antigas recomendacoes que ja conheco.
Outro dia conheci uma senhora que so comia com as maos, e ela me disse que ficou encantada: Meu filho eu estava em um casamento, sabe, aquelas pessoas muito bem aprumadas, muito champanhe, coisa de gente que tem dinheiro. Na mesa um monte de talheres e copos, aquela comida toda. Eu ali me sentindo estranha, mas devo te dizer que a comida era boa, e pensei, porque eu devo comer como os outros?  Meti a mao no prato- uma porcelana rica, e comecei a comer. No meu pueblo se come assim. Limpei as maos no guardanapo, e me senti muito feliz. Isso tudo é costume! No teu pueblo também comem assim com as maos? Eu respondi: Nao, nao senhora. Eu nao sei, mas e que eu nao perdi o costume de juntar o farelo do prato com os dedos, de segurar o frango com a mao, e de agarrar uma imensa folha de alface. Ah sim , sim...e nao é mais gostoso? ela me perguntou...Sim sim!
Eu admiro as pessoas que nao perdem alguns costumes, principalmente se elas gostam de sentir os alimentos, e andar descalcas...tu andas descalco, meu filho? Sim, Sim! Coisa boa né? Muito bom mesmo....agora voce ve essas pessoas todas, muita gente acha que eu sou uma sem-educacao,eu sei que algumas pessoas pensam isso...mas entao eu fico surpresa e muito feliz, quando vejo alguem da sua idade fazendo isso. E ela foi me contando um monte de historias, que onde mora nao tem privada, e que vai ali no matinho mesmo feito gato, e ta tudo resolvido...adubo direto...e assim leva a vida, mantendo o contato com a natureza, com os bichos e com a morte. Ouca bem, a vida esta em todas essas coisas simples. E depois veio o homem e inventou a colher meu filho, a faca, tem coisa mais perigosa do que ter faca dentro de um restaurante? Eu a escutava atento, e sorria tambem. A gente nao leva nada do mundo. Vai ter um dia que ninguem mais vai comer com as maos e nada disso sabe, de soltar pipa na rua, de brincar de gude acender vela pros mortos...eu eu ia me perdendo no pensamento. e cada vez mais distante, pensando na salsa, na roupa manchada, na mamae...Nossa, para onde uma salsa na roupa nao leva a gente. A vida é realmente absurda. Absurda e cheia de surpresas.


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Lampada 35

As cadeiras balancando pra ca e pra la
Os pés saltitando pianinho levantando a poeira
O  sorriso desbocado preenchendo o rosto

Meu corpo debochado convidando a rua pra sambar
Levantando os pobres da praca, os transeuntes da avenida
Despudoroso, iconografico. Eu uma puta dos carnavais.

A cachaca entrando goela abaixo
A malemolencia sacana do rebolar inteiro
Suado, entre os vestidinhos de seda e os sueteres de algodao

A Cara vermelha, expandindo muito, muito amor
Na frente desse bloco solitario
O coracao fazendo a bateria para um festejo popular

A saudade compassando como um soluco ritmado de cuica
Eu um rios de lágrimas dancando contra a melancolia
Um carro abre alas iluminado pulverizando o frio e a solidao.





terça-feira, 25 de novembro de 2014

luz luz luz

Gato
Ararapiranga
Homem
Ratazana

O Ex- namorado da minha irma Louise
E o presidente do Afegnistao

A Soraia com seu  biquini fio dental na praia de Copacabana
O Diorgenes com a sua feiura de nao namorar ninguem

Tudo Caveira
Tudo Caveira

Cabrito
Onca pintada
Mulher
Golfinho

A minha tia Emilia, seu Manoel das pamonhas
A dindinha dos chopes das frutas da Amazonia

O mano velho dos pes bichados
O padre Heremito da capela de Braganca deteriorada pela umidade.

Tudo Caveira
Tudo Caveira

Tartaruga
Peixe-boi
Menina
Sapo

A beata Jidoria das missas do domingo
O Joaozinho com sua pipa verde amarelo

A Angelina Julie com seus labios carnudos
E o Bredi Pite neto da dona Isidora la do Goias

Tudo Caveira
Tudo Caveira

Egua
Sucuri
Ancia
Lagartixa

Todas aquelas atrizes de filme pornos
E os Galas masi bonitos de Holliwood

A velha louca da avenida dezesseis de novembro
A prima Brena com seu fogo de menina debaixo da saia

Tudo Caveira
Tudo Caveira

Anta
Boto
Nenen
Gaviao

Os professores atenciosos do jardim de infancia
A inspetora Firmina, eu nunca esqueco dela, com seu oculos fundo de garrafa.

O periquito Tobias, a cutia Mirna,
A Sofia Loren e seu bronzeamento artificial à moda brasileira.

Tudo Caveira
Tudo Caveira

A Linda com seus sapatos GiorGio Armani no casamento da Berenice
O Nicolau espantando os corvos do milharal.

A cumadre Vandessa passando horas a fio acordada cuidando da sua filhinha Estrela, tentando terminar o seu projeto de pesquisa de mestrado
A Rita bradando contra os cachorros cheios de carrapato.

Tudo Caveira
Tudo Caveira

Girafa
Ariranha
Baleia
Condor

O  Augusto fumando os cigarros de sempre, reclamando do seu colesterol
A Debora do 201 desconfiando de que todos os seus amigos sao um oportunistas sangue sugas.

O Laerte, O Pablo e o Roque abrindo a sorveteria Tres irmaos
A minha mae sonhando com o restaurante proprio.

Tudo Caveira
Tudo Caveira

Bicho de seda
Mico leao dourado
Moreia
Pavao

O Papa Joao Paulo II celebrando a Missa do Galo
A Buru querendo viver mais um pouquinho na cama do hospital

As milhoes de pessoas correndo atras do trio eletrico no carnaval de Salvador,
O Tom trocando saliva com o Ciro, A Diva brigando com a Lia. E o Honorato preparando a mascara para brincar nas noites de boi bumba.

Todos dancando.
Dancando. Dancando.
Segurando suas ceverjas com maos de esqueletos. Comendo os doces e frutas de cima da mesa com seus dentes de esqueletos. Beijando, fazendo amor com seus ossos de esqueletos.
Dancando. Dancando.
Com seus finos e magrelos pes de esqueletos sobre a terra preta e umida.

Todos Caveiras
Todos Caveiras



lampadinhas

As casinhas sobre o campo.
As pequenas igrejinhas sobre o pasto.

Uma vaca
Um cachorro

As flores secando sob o sol.
As ervas daninhas multiplicando-se sobre as tumbas.

Um cavalo
Um beija-flor

Uma mesa bem servida de alimentos.
Uma cancao para fazer bailar a toda gente.

Uma laranja
Um menino

As velas acesas sobre inumeras superficies.
As oracoes de amor contra todas maleficencias.

Uma velha
Um redemoinho.

Um foguete rasgando o globo
Um pergaminho contando outra historia

Uma dadiva
Um caminho

As criancas brincando com as caveiras
As mulheres parindo sete vidas

Um caixao
Uma bailarina

As teias de aranhas em cima do teto
As correntes de ar frio trazendo bacteria

Uma cabana
Um arvoredo

Um texto de bula de remedio
Um relogio de pulso irritando a pele

Uma boneca
Um artesao

Uma frase escrita no muro
Uma modesta afirmacao

Uma louca
Um tolo

Uma relva
Uma erecao


lampada 25

Uma febre rasa me pegou de jeito.
Os pes descalcos sobre o assoalho gelado da casa.

Um bonde passando todos os dias no mesmo lugar.
O sol nascendo para mim e  para os milhoes de insetos.

Eu precisava dormir e aquecer as maos. Um sono para encarar os dias do amanha.
Fazer valer os livros lidos na estante. A poesia escrita sobre a seda fina da existencia.

A febre que me faz imaginar as muitas gentes espalhadas pelo mundo. Os refrigerantes servidos no jantar, a carne de porco assada com alecrim e suco de abacaxi.
E em algum lugar do mundo, um vegetariano passando mal, a cada mordida no pedaco de bisteca. A dona Gloria chupando os ossos. Eu existindo aqui e la. De costas para o banheiro, mirando a poeira se movendo sobre a luz. O sol bonito sobre as folhas verdes do capim santo,  da erva cidreira, e dos tamba tajas. Esse momento necessario de febre e calafrios. Eu querendo dormir, para acordar.
Eu sei, isso nao e doenca. O sangue palpitando. A-ra-ra-pi-ran-ga. tum tum tum. O tic tac tic tac, e a agua fria esfaqueando a pele, o gato defecando em todos os lugares inapropriados.
As pessoas com tao poucos dentes na boca sorrindo às estrelas. E tanta gente acreditando nas suas certezas de ser diferente do mundo. As alegorias mal bordadas, e as mascaras borradas num festejo tipicamente popular. Assim e que esta bonito. Comer sorrir agradecer morrer. E os muitos se magoando pela primeira observacao de uma fotografia nao revelada. Angustiados pela falta de alguma droga que os alivie do tum tum tum tic tac tic tac dos dias. Isolando-se do mundo e da esperanca de boas companhias por conta de comentarios tolos e pueris. Reclamando da comida fria, do cafe ralo, das muitas cebolas em cima da salada de alface.
O sol queimando indiscriminadamente para todos. Para as borboletas.
 A vida, um pavio curto. E a existencia se desfazendo ao amanhecer do gafanhoto. Eu rindo de tudo. Do absurdo e da bonitez dos meus pelos do peito, dos apito de madrugada, das cascas de fruta apodrecendo no quintal. Das pessoas correndo para o trabalho.
E  o hoje terminando mais uma vez.
Amanha o sol. Queimando tudo de novo. E havera quem se irrite com tudo isso. E havera quem maldigue o peixe com espinha. E havera quem se sinta decepcionado. E havera quem se deixe perturbar pelos pensamentos. O sol continuando a arder para mim para as gentes e para as mariposas. E ainda assim havera gente dizendo que eu sou pessima companhia. Mas mesmo assim indiscriminadamente o sol continuara aquecendo. Eu continuarei rindo.  Continuarei sonhando. Olhando as estrelas. Agradecendo mais uma oportunidade de receber o sol na  janela. Admirando a absurdez e boniteza da existencia.

Lampada eletrica

Quando eu resolvi contar as gentes sobre a criacao e a destruicao do mundo, no ceu um raio relampiou no fim da tarde, relembrando o amanhecer no norte do Brasil. E as gotas geladas de la de cima caiam sobre o terreno fertil da minha cabeca.
As pessoas escondidas debaixo das lonas de plastico, dentro dos carros e dos supermercados vinte e quatro horas. Eu achando tudo aquilo tao bonito, as pessoas reunidas diante de um temporal.
O fogo nas barracas de cachorro-quente. A brandura quente do cafè com leite. As milhares de gotas por segundo caindo sobre o asfalto seco. Poeira. Choro. Suor.
A cidade. Uma unica estrela acima, marcada solitariamente na bandeira nacional.
ELE NAO SABE QUE SEU DIA E HOJE.
Os rostos platinados com a cintilancia de um vermelho  indicando aquele lugar, abaixo da linha do Equador. Eu so vim aqui por que fui chamado. Hipnos.Hipnos.Hipnos.Hipnos. E o tudo todo guardado em uma caixa. Lapso de poesia no tempo.
Nas montanhas essa lingua estrangeira ressoando uma existencia nao esquecida. Viva, muito viva. Bele, bela muito beautiful. Eu vivo. Muito vivo.
Correndo no viaduto contra os caminhoes e as pocas de agua. Correr. Esperar. Sentar. Os pes encharcados. O regresso à casa, o pao com ovo quente na frigideira. Eu brincando de querer todas as coisas da vida. Eu um tantao de coisas. A tartaruga na bacia de lavar roupas. O passaro negro em cima do muro. O cachorro lambendo os meus pes.
Quem esta aqui?
O espelho. Eu a cara mais envelhecida do que ha dois dias atras. Aquele olhar que nao se perdeu no tempo. O desejo de acampar no quintal com os irmaos. As surras da mae que depois acariciava a pele irritada pelos tapas. O iogurte aberto na loja de laticinios. O dedo torcido. A mae banhando o menino naqueles dias de calor, abanando-o contra os carapanas. Eu dizendo ao melhor amigo, ate os trinta conheco toda a America Latina. Imaginando as varias vidas. Um por do sol diferente do outro. Em algum lugar da America. Eu um brilho de estrelas faiscando acima das nuvens.
A chuva cessando. A noite fria me convidando a calar a boca. Tres cigarros. Um pe depois do outro.
Amanha e outro dia. Amanha e outro dia.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

220 watts

Os amores
essa vontade de se fazer contra
A MORTE
 a morte
Essa vizinha circundante e súbita, atenta e impetuosa.
Dia desses eu fui a um enterro...lugar lindo, passarinhos e o observar das arvores
As gentes todas chorando num pesar. Que tristeza estar sozinho. A gente precisa de tempo. Para tudo...e a criação do mundo se refaz. Os nossos olhos brilhando gritando a vida. É preciso. E preciso. Eu olhei pra eles assim e um calar as bocas. O sol se pondo numa tarde desconexa e verossímil. Os caminhões parados e os gritos nas ruas. Um menino morto. Tantos meninos mortos, eu  conheci um bocado deles...uma flor desabrochada. O tempo. E a gente envelhecendo no solo do quintal, brincando de viver.
Agora na minha cabeça só lateja o presente. Um bocado de vinho, os montes de cigarros e os companheiros desse número da avenida. Eu devia ter dado mais, as orações a noite, os papai do céu obrigado por tudo. A cruz no corpo, o meu cadáver sendo preparado para o sábado de aleluia. Ele não sabe que seu dia é hoje. Um pingo. Coisa. Um ponto brilhante em meio o infinito. Meus amores multiplicados no azul do céu. É dia de estrelas. Viva aos Santos Reis. Minha coroa no topo da cabeça. Iluminando escuridões. Eu te amo Eu te amo Eu te amo. O telefone chama tum tum tum, eu preciso falar contigo. Me ame outra vez.
Aqui da casa de Henriqueta as gatas gritam no cio todas as noites. Elas estão enlouquecidas. Pulam telhado. Se esconde em boeiros. E mordem com seus caninos afiado e finos. Henriqueta diz que ela esta assim como um gata. Eu digo pra ela : Henriquete tu te orienta. Ai ela me diz que é tudo com proteção e tal e muito carinho. Nem uns dentinhos na carne, nem uns tapinhas na cara. Ela diz égua maninho também não sou de metal né? Sou bicho. Sou animal. Sou uma tigresa. AH... Henriqueta   ainda bem que tu sabes...ainda bem que nós sabemos. Ainda bem que a gente tem consciência disso. Ah papaizinho , isso é cintilância me respondeu Henriqueta. Garota esperta. Só o filé!
Acendi um fino. Ah! Um fino. Fervilhando, eu tenho que escrever. Eu tenho que escrever. Comunicação. Contato. Eu preciso dizer. E tu precisas escutar. Sabe quem eu sou? Sabe quem? Meu fino apagou, acendi pra mim? Preciso tomar mais vinho. Agora a cabeça ficou quente!!!! Contatos , contatos. Cuidado. Cuidado . Onipresença. Onisciência. E tu. Não te apegues em nada. Células informacionais em todo o universo. Tu tua pequena história. Tua breve vinda. Vida. Espera.  Espera . Espera. Medita!

Agora eu preciso de uma foda bem rápida. Tranquila. Um amorzinho de pica que entre e sai dos orifícios. Um amor de putinha de vale nada da esquina e que doa todo o amor inocente que carrega consigo. Uma putinha dos operários, dos vagabundos dos becos da cidade, que precisam jorrar suas porras nas caras de tantas ninfetinhas de pinto. Fazer engolir. E ter aquele desejo de usar uma putinha como objeto. Abre as pernas . Chupa pica. Engole . Puta safadinha minha putinha. Meu putinho. AH....AH.....AH... HOJE EU FUI MUITO FELIZ!!!
Eu Não sei o porque se tem ganhado tanto dinheiro com as mídias de pornografia. Eu realmente queria entender. Porque eu vejo um monte de gente fudendo entre si e não tenho pagado nada por isso. Bobinho. Pelo menos não vejo ninguém enriquecendo. Aliás as vezes esse negócio de bareback hadcore é  de doer o pinto e o cú. Fica tudo assado. Tudo dolorido. E me dizem que esse tipo de negócio realmente dá dinheiro. Vou começar a filmar sexo e vê se isso rende alguma coisa.
Esses dias todos eu fiquei entocado dentro de casa , parecendo um gato velho, esperando a noite chegar para sair à rua. Foi o que fiz, e a lua estava linda e radiante no céu. O vento na minha cara o mundo é só meu. Eu estudando sobre Osho, aquele cara barbudo que fala sobre meditação, vida e morte, e realmente  tenho pensado em suas  colocações pertinentes sobre a existência. Viva a vida tão totalmente, tão intensamente. Seja tão flamejante com ela, que quando a morte vier, não existirá queixas, não existirá rancor. Você está absolutamente pronto, pois viveu a vida tão totalmente. Você conheceu todos os seus mistérios. A MORTE VIRÁ EXATAMENTE NO TEMPO CERTO.
Então eu pensei, eu preciso administrar minha vida, eu preciso deixar a coroa brilhar, eu preciso realmente me organizar, e materializar as coisas que estão no plano das ideias. Eu comecei a escrever um monte de coisa...e em mim ressoava um vento forte...um trem anunciando...eu não posso perder...não, não quero uma outra estação. A vida não é algo que você possa seguir perdendo. Eu decidi colocar um cocar de ARARAPIRANGA na cabeça. Hoje é dia de fogueira e sangue. A vida. A vida não é miserável.
Eu tenho me sentido pronto, mas realmente eu preciso definir algumas coisas. Bebida e cigarro, e percebo manifestações de outra realidade bem próximas ao meu ouvido. Certa noite eu tive a sensação de estar rodeado de gente de outro mundo. Não tive medo. Eles não me querem mal. Um deles me orientava esteja aberto suficientemente para usar a oportunidade de se transformar em algo imortal- ARARAPIRANGA. Eterno. Alguma experiência a qual deixará, além do alcance da morte. Me recordei das tantas escrituras. Signos. Imagens. O livro egípcio dos mortos. Caminhos de luz e ouro. Compreendendo o meu hexagrama.
Deus precisa ser rememorado. Faça a festa. Acenda uma vela. Deus precisa ser rememorado. E ontem passando pela avenida dois putos me param oferecendo cocaína eu disse que não estava afim. Olhos de demônios. Eu os conheço bem. Me ofereceram craque, queres fumar um na lata comigo? Eu conheço bem tudo isso, e depois um gole de cachaça, quarenta cigarros na madrugada e vinte picas entrando no orifício. Minha cabeça latejou, eu os conheço de outras vidas, e não tenho medo nem repugnância. Esse mundo precisa existir, eu preciso equilibra-lo. E o não manifesto me disse pegue o trem...é hora de voltar pra casa. Você precisa simplesmente estar um pouco mais consciente. Mas não é fácil. Harmonize-se. Não é fácil. Teus pontos cardeais do corpo estão abertos, esse é o momento. É hora de voltar pra casa.
Primeiro comece lentamente. Passo a passo. A vida é uma oportunidade. A viagem, a flor se abrindo, a bala perdida caindo em cima do meu corpo, as minhas coisas espalhadas por tantas casas, eu dormindo aqui e ali. Comendo o arroz com farinha, aproveitando as raspas na panela. A vida é linda, e generosa. Esse é o tempo de retribuir. Vou pro quintal olho o céu, o sol está lindo. Agradeço os passarinhos, aguo as plantas e deixo as formigas caminharem no meu corpo. Está tudo lindo.
Me afasto de algumas gentes, e percebo que a vida é um ciclo de mudanças e repetições. Eu um monte de água querendo fluir no córrego. O peixe que desce e sobe. Eu não estou  perdido, eu não estou sozinho. E esse amor aqui dentro do peito. Minha casa ficando arejada. Eu prefiro a penumbra, mas nem por isso ela deixa de estar repleta de alegria e refinamento Existe um amor aqui dentro, debaixo dos tapetes. Nas esquinas do banheiro, no incenso pegando fogo. Nessa solitude. Tudo é tanto amor. Relva, o capim grosso crescendo em frente as janelas. O feijão cozinhando com um pedaço de mocotó alho e óleo. As jabuticabeiras mostrando os filhotes. Os meus olhos de menino ainda brilhando. E brilhará ainda em meio a toda essa confusão de gentes e planetas. Porque tudo é readequação, alinhamento, caos e cosmo. Os meus olhinhos de menino, meu coração compassado na historia do tempo. Eu mito rito amor, e nada mais abala, nem mesmo a morte porque eu também sou ela.
Uma amiga me ligou, me perguntando se eu estava bem. É claro, depois de tudo que me aconteceu, e olha que o ano ainda nem terminou. Mas não tem o que ter medo. Of Course. Sabe eu estou indo para um lugar sagrado, dançar e cantar em cima dos túmulos. Todos aqueles antepassados, tantas lutas, projetos, desejos de ser melhor. De fazer um país mais digno, de ter acessibilidade as coisas. E tanta gente alienada, pessoas que não sabem nada sobre si. Pessoas que não sabem que a vida é um fazer politico e poético. Me visto de ARARAPIRANGA. É preciso estar atento e forte. Fazer a marcha, fazer o mundo ouvir. Ai vem um monte de gente dizendo que o Brasil está uma merda, um bando de facista que rouba o povo e se diz revolucionário. Gente querendo tirar a presidenta do país. Gente burra mesquinha. E vejo tantas conquistas, o pobre tem de um tudo. Eu sou o pobre que tem computador em casa o celular moderno, e que vou fazer a quarta viagem internacional. É preciso intercambiar. O mundo é um moinho e navegar é preciso. O Haroldo se formando em Direito, e a Marta está mais bonita agora depois que conseguiu a casa própria, ela diz todos os dias que nunca mais sentirá fome outra vez. Eu fico rindo da Marta, porque me lembro da Scarlett Ohara comendo as batatas da terra. E é realmente um momento de avanços de inserção no mundo. De mostrar a cara do meu país. Isso aqui sou eu. Umas mangas caindo das árvores, a chuva forte inundando as ruas da minha cidade, eu tomando o açaí com peixe no mercado. E tem gente achando ruim a comida na mesa. A possibilidade de falar outro idioma. Navegar é preciso. O meu país está tinindo. Tilintando. O meu corpo pulsa. ARARAPIRANGA.

Esse programa é o meu favorito, liga o rádio, escuta. Imagina. A tua historia secreta. Uma trilha no fundo e tu narrando as tuas paisagens. Uma lâmpada de luz incandescente brilhando forte e perdendo a energia. Esta caindo a energia toda hora. Desliga esse chuveiro quente então. A mulher morreu eletrocutada no banheiro no momento do banho. Ela escutava esse programa, 93,7. 93,7.93,7. E não sei porque mais aquela vontade de comer umas batatas com azeite. O oraculo havia me dito para ter cuidado com a boca. Como que intuitivamente estou a sete dias sem me alimentar direito. Um pão, muito água. Ontem  um suco de cupuaçu. Uma farinha com agua. Eu rememorando tapuios e macuxis. Tamoios e Tupinambás comendo com a mão em um passado que agora eu imagino. O programa continua. Eu um dia serei um contador de histórias. E as pessoas vão encontrar nas cidades as palavras da minha eternidade. ELE NÃO SABE QUE SEU DIA É HOJE. ARARAPIRANGA. Cocar na cabeça. Esse é um belo programa. Essa é uma bela historia para as posteridades. 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

NATUREZA

As pessoas aparecem em nossas vidas
e desaparecem misteriosamente...
Eu me perguntei diversas vezes o porque de tudo isso
acordar, lavar os pratos na pia, calçar os tênis escovar os dentes
e de repente o Vicente não esta deitado ao meu lado na cama
o Italo cresceu e já tem pêlos no rosto
a flor desabrochou depois de tantos anos.

Outro dia eu recebi um telefonema da Licia. Iria fazer uma mudança para Israel, e lá iria morar os próximos quatro anos. Eu fiquei feliz, A Licia na terra do menino Jesus. Mas se eu não a visse nunca mais?

Eu aqui tão distante, e a Licia lá... e já fazem dez anos que não tenho noticias dela. E a sensção que eu tenho é de que ela é apenas memória. Um tempo perdido no passado. Alguém que parece ter vindo de um sonho. O meu sono profundo, e agora nada mais.

Aconteceu também diversos casos semelhantes a estes no decorrer da minha vida. Eu me lembro do Bruno, do Gilmar, da Tâmara com suas botas mecânicas, e as tardes de sol em meio ao gramado embaixo do pé de jamelão do quintal da escola.
Da dona Doida que brigava com as gentes atravessando a rua por nada. E do seu Ary que vendia pão na quitanda ao lado da vila em que meus avós moravam.

Em um dia eles estavam todos lá, olhando as paisagens, falando dos amigos e planejando seus sonhos mais prodigiosos para um futuro lindo a acontecer.
E de repente as folhas das arvores começam a cair. O dente do Levi cresce na boca, e os mamilos de Lucinda ficam mais proeminentes feito duas pêras bem maduras, prontas para morder.

O vovô morre depois da tigela de açai, e quando retorno a casa dele, nem mesmo o seu maço de cigarro vagabundo eu encontro na comôda do quarto. E dias se passam até o cheiro desaparecer.

Assim da noite para o dia, na solidão da madrugada, no silencio da paisagem tudo acaba, e é como uma viagem sem volta.
Os dias jogado na rua procurando dar algum sentido a vida. A vida pulsando, cheio de sexo , saliva e suor.
A masturbação de todas as noites impelindo os nocautes de todos os dias  de uma morte lenta. O semên espirrado nas entranhas de uma fêmea lutando pela vida.  O sangue latejando na veia.
E tantos amores que passaram pelos meus olhares me impedindo de morrer mais uma vez.

Pra que tudo isso, as filas de banco, os horários dos ônibus
e o filé especial ao molho de manjericão nas tarde de domingo, se Edgar não poderá mais confraternizar conosco os baseados e as dezenas de taças de vinho e cerveja nas festas da casa de Marta.

E tudo vai ficando mais estranho, e também mais sombrio, As paredes umidecidas da casa. O sol latejando na cabeça, e o passo cansado até chegar no trabalho.

Eu sinto um aperto doloroso, uma indiferença na vida, e tudo me parece realmente muito cruel e mesquinho. A vida fingindo nos querer bem, e em um minuto de tempo tudo se perdendo.

O brinquedo, a fruta madura não saboreada, e os meus olhos de menino esperando o trem na estação.

E tantas fotografias, poesias e o desejo do dia após dia.
e a gente cantando acima da terra fria, dançando sobre os corpos decomposto gritando
VIVA! VIVA A VIDA!!!

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Luz passageira.

Tua imagem no meu sonho
doloroso pressentimento
tua pele em microescamas
onde os meus olhos passeiam atentos
joelhos longas pernas calcanhar  polegar

Tua imagem vestido de olhos
tua barba teus cilios impregnados de alegria
tal qual borboleta viva

Tua imagem um dorso na cabeça
me disseste tantas coisas
violeta lilás
tua imensa estrela

Cintilância Amalgamar

o meu corpo estirado na maca
tua imagem nos meus sonhos
eflorescendo um pilar
vela acesa que chora na madrugada.

Absessos Rachaduras
minha natureza brotando em trepadeiras e bromélias
meu corpo cacto arredio lava vulcão.
 eu acordado
a ultima vez teus olhos ao final do dia chovendo
tua imagem a tua pessoa.

passagem

menino eu sou um peixe
eu preciso sair daqui agora 
de dentro desse aquário
mas é tão bonito admirar esse vitral, parede de cristal
vidro emoldurado em cima da mesa

menino eu sou um peixe
daqui debaixo, águas amenas, densas
tudo muito escuro
essa cegueira natural
de habitantes profundos
pele fina dentes LUZ

menino eu sou um peixe
e a correnteza ta chegando
a correnteza ta chegando.

Me jogo
turbilhão
vou
vou
voo.

sábado, 9 de agosto de 2014

luz marinha

eu sou de um tipo de intensidade
mar bravio
rios e pororocas
um oceano imenso rio-mar
passagem de tempo denso
observado na beira das ribanceiras

Desmancho solos arenosos
penetro solos
bato duro em sedimentos rochosos
usurpando raízes de arvores
e fazendo brotar de destruídas paisagens um novo manancial

Eu sou de um tipo de intensidade
serena e violenta
superficial e profunda
boiar as vezes
mergulhar
Ah...mergulhar...


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Não diga


luz negra

A vida então me disse
escreve teus poemas de amor
mas a morte sempre presente
circunda um filete em flor

porque chora esse amor tão bonito
como o canto de um pássaro encantado
beirando a dor?

a morte se avizinha a todo momento
a vida me disse
olhe as transparências das águas
ela é multicolor

me banho com pedras preciosas
colares rubros
brilhante me visto para o meu amor

mas te afastas roupa corpo
será a eternidade uma bruta flor?

o vento sopra dentro de mim forte
descompassado cortante
quem se interessa pelo amor?

desenho casas sol a pino
uma arvore gigantesca no quintal
fruta madura manga rosa
para  não me perder novamente

e te afastas pra mais longe
mas este tempo é do amor
então por pensamento me pergunto
quantas vidas ainda terei?

a vida então revela
a morte é tua amiga
viva, não escreve mais

fecho os livros
arranco páginas
e decido então parar de escrever

e amo beijo a boca
abandono a minha casa
para outra reerguer

e te afastas de mim
café da manhã
tua cara desconfigurada
borrada entre as tantas da minha existência
porque tem de ser assim?

a morte então me avisa
a vida é liquida, viva deixe ir
o teu amor é mais profundo
nada prenda a tua experiência
o rio sempre haverá fluir.






segunda-feira, 21 de julho de 2014

Possuído

Com que olhos eu te olho?
Ah! Queria eu domar este espirito possessivo
que apossa minh'alma, transformando-me neste ser patético a que os poetas chamaram de apaixonados.

Queria eu ter a frescura dos cônegos que afastam de si, toda a perversa paixão. Sem derrubar igrejas e monastérios.

Sortilégio! Feitiço!

Quanta nebulosidade reveste o meu olhar.
Maldição!

Estou sedendo e impregnado pelo ar de Satã!
Espalhado pelo ar , tal qual virose a me incorporar.
Onde quer que eu respire.

óh trevas!
Tua pele, tua saliva, teus canais ílicitos a embriagar-me.

Quisera eu curar-me desta febre demoníaca. Mas nem pertenço agora a mim mesmo.

Oh fagalhos d'alma! estupidamente entorpecido.
Ignóbil possessão, bruxaria.
Se ao menos tivesse razão.

Que nome terá essa droga que a mim avassala o apetite e a consciência?
E riem de mim.
Quanta covardia!
Já não sei como fugir...estou condenado!

ARQUITETURA

Aniquilo antigos parâmetros
para elaborar novos projetos
E ergo neste recente local
Um recinto ainda indefinido
Um espaço para possíveis construções

Planejo inúmeros objetivos
Categorizando minunciosamente especificidades
Mas dessa premissa abstração, surgem
Arquiteturas híbridas
Planas, curvas, transversais, perpendiculares
Desconexas

Reconfiguro planilhas
Adequando a nova realidade arquitetônica
Maquetes, sistemas hidráulicos, plantas baixa
Contrario obtusos esquemas habitacionais.

Armo pedra sobre água, tronco de árvores,
pilares de concreto, flores, janelas
Amplio as fronteiras geográficas deste território
Difundindo novas ideologias de ocupação

domingo, 29 de junho de 2014

das zonas abissais há um peixe iluminado

Ao longo da vida a gente ama um monte de gente. E é gostoso a sensação de amar alguém, de se ter um amante amado...Mas ae eu fico pensando na dó, na dorzinha que isso provoca, quando se tem expectativa. Quando a gente ama dá vontade de a gente viver aos milhões de anos com a pessoa, e isso são horas dias semanas e todos os milésimos de segundo convivendo coladinho, atado feito bicho hibrido em um unico corpo. Androgino. Eu mesmo ja amei alguns que pela minha vida passaram, e todos eu me lembro.
Mas de todos houve um que viu o meu olho ardente de fúria, de pavor, de insanidade. Houve um que me fez chorar madrugadas inteiras, que me tirou o sono, que me fez chorar feito nenem sem mãe, sem peito. E percebi esse amor usurpador cheio de cólera, de paz também, mas sobretudo de uma grande estranheza.
Que dó dava de mim, que raiva que estupor. Quantas palavras cortantes e pupilas dilatadas querendo estrangular gargantas, cuspir caras, desaparecer na multidão. Que dorzinha, feito aparelho de barbear. E depois estanca, depois de séculos adormecido, vagueando num sonho em que as coisas todas se repete. Ah o amor, essa palavra, esse palavreado que inventaram e colocaram na boca das gentes, e na escrita de tantos poetas mortos. Ah o amor...e agora essa brisa fresca, uma outra mão que me toca, acaricia a cabeça e me chama de amor...ahhhh quanto amor e quanta formosura. E isso me dá uma dózinha...porque a expectativa de se viver séculos e ser imortal pulsa, e a gente não quer largar. Mas agora tem-se a clareza de que tudo se vai, mesmo criando expectativas...construindo casas, bosques, mirando luas. Agora tem-se a sabedoria de um amor agua liquido, concentrado e fluido. Tal como as aguas...tal como a vida tem de ser.

sábado, 28 de junho de 2014

Fulgaz

Quando eu ouvi a Mirtes dizer que amor, que amor tem que esta presente, eu respondi dizendo que a Mirtes não podia falar de amor, porque na verdade ela nunca soube o que era. Amor, Mirtes é quando a gente se sente bem por dentro, por fora, e acredita que as forças criadoras conspiram ao nosso favor. A Mirtes riu. Aí me deu uma vontade de pular em cima da Mirtes. Nunca foi amada, o pai nunca conheceu, a mãe muito menos, não trabalha, e só sabe falar da Dona Giovana, a vizinha que ficou viuva a poucos anos. Essa velha deveria é morrer logo, só assim ela ia ficar com o amor dela. De baixo da terra, e soltou o riso. Mirtes, Mirtes, olha o que tu falas. Desgraçada. Feia e sem um pingo de formosura.
Dia  desses eu encontrei a Mirtes sorridente como nunca havia visto. E depois, mais duas ou três vezes. Sorridente e cheirosa, batom suave nos lábios. A Mirtes desapareceu, assim do nada, sorrindo, e nunca mais voltou. Eu tenho boas lembranças desses sorrisos. E também da Mirtes ranzinza e debochada. Mas ela se foi. Oh Mirtes, como tu estavas cheirosa aqueles dias, e linda. É, acho que a Mirtes esta amando. E amor é uma coisa tão boa pra gente. Eu queria conversar com a Mirtes. Mas ela, nem sei mais. É, a Mirtes esta amando mesmo.

Lilith- lâmpada vermelha acesa na madrugada

teus olhos queimam meu olhar
deveria eu entender o porque?

Me desvio de olhares comprometedores
Tal qual o Diabo me despes com rajadas fulminantes

Deveria eu entender o porque de tais acontecimentos?

E continuas calado a mirar-me com teus olhos de sol e lua
desfaleço sobre o teu corpo e ali entre florestas permaneço dias.

És um demônio usurpador e genioso lambedor de carnes
me malfazendo aos pedaços, sugando-me nobre sangue

Possuído pelo teu espirito corrupto e maledizente
eu ofereço-te o coração, a alma e outras vidas.

E debochas de minha obsoleta oferta:
Teu destino desde os tempos a mim pertence

Eu deveria entender porque?

Ardendo eu ignoro a minha vida
e cansado de teus subornos oculares

Rendo-me para que possa sugar-me
saliva, sangue e suor.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

lumiar

noites iluminadas
PONTO
lamparinas escritas nas mãos
PONTO
fogo no corpo do homem
PONTO
ardência de querencias dia após dias
PONTO
banhos de sol
PONTO
brilhantelas lâmpadas no ar
PONTO
historias contadas para incandescer gerações.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Sete Luzes

Sete tiros na cabeça
Sete rosas pra contar
Sete Cruz na encruzilhada
Sete covas pra cavar

Sete são os nossos filhos
Sete contas pra pagar
Sete estrelas desse reino
Sete peles pra trocar

O eremita nos meu sonhos
Me dissera muito além
Há uma Lua em tua cabeça

Sete dias da semana
Sete são meus patuás
Sete setas no caminho
Sete roupas pra lavar

Sete penas do caboclo
Sete luz na escuridão
Sete são os nossos chackras
Sete pontos corporais

A chama de uma vela
Consumindo o algodão
Me mostrou: Tua vida reluzindo
feito asas de pavão

Sete fitas no cabelo
Sete Reis de embarcação
Sete taças de vinho
Sete afiados esporão

Sete pesos carregados
Sete pratas a alumiar
Sete véus desencobertos
Sete espelhos a estilhaçar

Sete faca amolada
Sete risco no chão
Sete sinos ecoados
Sete hermafroditas em comunhão

Sete e Sete quarenta e nove
Para a alma retornar
E brilhando no tempo
Eterno
Mais uma vida a cintilar

Esses são os Sete ciclos
Que na cadência da passagem
Emolduram a paisagem
De sete milhões de experiências
De sete vidas trespassadas.

Retinas

Uma luz na estrada
Piscando acende apaga
Não, meu bem
Não são estrelas não.

São luzes na paisagem indíga
Pequeninas luminescências
movimentando-se velozes
Não, meu bem
Não são estrelas não.

Um ccarro parado na esquina
Um ritmo TUM TUM TUM
TIC TAC bem acelerado
TUM TUM TUM pulsa por algum sinal meu coração.

O carro parado me olha
Circundando faróis
Abrindo os olhos de luz na escuridão

Luz cegando minha visão
são estrelas queimando na imensidão
Não, meu bem
Não são estrelas não.

Eu sido adiante
E dianto do carro eu tateio
TUM TUM TUM
TIC TAC acelerado pulseia meu coração

Agora não mais
A estrada
Os lençóis
Os travesseiros
Um corpo suado em cima do meu

Essa é a hora
TUM TUM TUM
Pulsa meu coração
Vejo meu corpo

Esquartejado
Transfigurado
TIC TAC TIC TAC
Uma luz
Muitas luzes

São estrelas
Não, meu bem
Não são estrelas não
É o meu corpo aos pedaços
Em carne espalhados pelo quarto
No chão.

Luminária

A vida
Eu Tu
querendo se acoplar
para a propagação da existência
e sermos algo difuso, imaterial, hereditário, infinito.

E me falam vozes:
Foges. Tu precisas ir.
Me desconheço em inumeros instantes.
Cada minuto, mil vidas.

Tu me amorteces
o reconhecimento de minhas tantas faces.
Permaneço.
Olhos de cães.

Teus dentes e púpilas
teu cheiro de planta silvestre
selvagem me retém

Me desmancho em lágrimas
sobre o teu corpo suado.
Tantas vidas em um só minuto.
Quantas mortes, olhando o teu olhar.

Querencia de ficar
Amanha provavelmente desfaça
E me falam aos meus ouvidos são particulas sonoras
Elétricas.

Emudeço
Vagueio em qualquer lugar no espaço
Ébrio
Sóbrio.Luminária

terça-feira, 10 de junho de 2014

Alumiação

A zabumba veio me acordar
eh boi gritou guarnecer
no chifre seis fitas amarelas

Bumbá eh boi
o tambor gritou guarnecer
com uma lua na testa

o corpo alumiado de estrelas
os homens mundiados na terra
Bumbá boi soou amanhecer.







LUZES

Da minha alta torre vejo casas
uma em cima das outras
levantadas com barro vermelho

AGLOMERADOS CASEBRES
COMUNIDADE DE HOMENS-FORMIGAS

Da minha alta torre vejo o azul do nobre céu
As nuvens passageiras que a mim conversam
E a imensidão plana e curva do oceano

E ME RASGAM OS OLHOS
ANDORINHAS POMBOS E ANTENAS DE TV

Da minha alta torre escuto vozes
Alegres festivais alterados
e dentro de mim o som introspectivo
do pulsar sanguineo

HÀ ARVORES ARRANHAS-CÈUS
 E HÁ VENTO

Da minha alta torre na calada da noite
A lua invade a janela
e ao amanhecer o sol vem me acordar

OH! QUE BONITA CABANINHA
BRILHANDO SUSPENSA NO AR

Da minha alta torre eu bem sei que há telhados
A proteger-me e paredes e portas
E há também chão, e abaixo outros casebres que iluminam a escuridão

EU SOU ESSA MINUSCULA CRIATURA
POEIRA ESPALHADA NO AR.

Da minha alta torre eu agradeço essa visão
Porque tudo isso é também feito de pó
E olhando aqui do alto
A mim eu também vejo e reconheço.

SOU TAMBÉM HOMEM-FORMIGA
ESPALHADO NESSE AGLOMERADO DE CASEBRES E GENTES>


Luz Violeta

Uma voz do de dentro me disse:
Tu não podes enlouquecer
O amor há de ser sereno

Eu escrevi tantos versos
Para minh'alma acalmar
essa passagem ao relento

Essa vida Tão antiga
Me repete acontecimentos
tuas raízes hão de fincar

E agora emudecido
pelas orientações do lá de dentro
Eu lacrimejo engrandecido
esta dor não vai magoar

Mas é mentira destes ventos
O lá de dentro pulsa alto:
- Tudo irá passar
Nessa vida nada fica.

Os amores virão aos milhões
Essa é tua vida
guarda a tua guarnição

Eu então me desconcentro
Repouso os sentimentos
e lá de dentro compreendo
a sabedoria ancestral

Esta linha irá arrebentar
e mais uma vez o lá de dentro me orienta:
- feche os olhos, mais uma vez irás sonhar.

E durmo tantos sonhos
Já não sei o que é real
Te organiza - me diz o de dentro

Escrevo longas cartas
o meu sentimento ideal
Emancipo a minha beleza
Transmutada em poesia

E o lá de dentro me orienta:
- Não sofra, desenvolva a tua alquimia.

Luz indiga

Sinto tua ausência
O teu cheiro de mar
O teu corpo quente

Queria mirar inumeras vezes
O teu olhar e serenar
Sentir o teu sagrado incenso

E em todos os momentos
Que acenderes uma vela
Meu corpo sentir-se-á protegido
E sobre o abraço de tua pele estarei dormindo

Quando a noite eu ver teu olhar
Recordarei o que é amar
E a morte mil vezes venci
antes, de no teu corpo imergir

Sono profundo é o amor
Que passa rápido, ligeiro
tal qual beija flor

E tudo é intenso
feito faísca no tempo
como estrela a tilintar

Mas fique atento
que a poeira dos ventos
as águas irão levar

Eu estarei renovado
Aguas cristalinas de Vênus
Quando o meu corpo não mais beijar.

E tudo em mim será agradecido
por esse sentimento eflorescido
Que me fez os olhos brilhar novamente
como relampagos reluzentes de seres abissais.

Isso prova a toda hora
que os poetas sem discórdias
sempre quiseram amar

E isso os matavam
mas também os fortaleciam

A este sagrado tempo
de pulsar de corações
de salivas despejadas sobre mundos
Eu celebro esta comunhão.

sábado, 22 de março de 2014

Vocês são de signos de água, e ambos precisam abusar periodicamente dos sentimentos intensos para saberem que estão realmente vivos. Vocês são românticos e nenhum dos dois poderá suportar muito desapego ou uniformidade em um relacionamento.
Essa união pode ser muito criativa, se estiverem envolvidos em trabalhos relacionados com arte ou profissões médicas. Ela poderá ser simpática e curadora para ambos também, já que vocês vêem por trás das aparências e conhecem a vulnerabilidade um do outro, assim como sua força. Há muito afeto, empatia e compreensão profunda em potencial entre vocês.
Mas a objetividade não é um ponto em comum em nenhum dos dois. O intenso escorpiano poderá tornar-se possessivo se o fluido pisciano for visto dando atenção a muitas pessoas. O expressivo pisciano poderá sentir-se rejeitado se o contido escorpiano mantiver segredos.
O orgulho intenso de Escorpião poderá criar uma ilusão de frieza, e a tendência à martirização de Peixes poderá impor culpa ao escorpiano. Tentem evitar jogos emocionais. Aprendam a comunicar-se sem as interferências de culpas, e aprendam a identificar quando estão exagerando ou distorcendo o que acontece entre vocês. Valerá a pena olhar de longe, às vezes, observar e compreender a si mesmos e aos seus motivos com clareza.
É impossível compreender suas verdadeiras motivações, porque elas mudam o tempo todo, como as marés dos oceanos. Peixes estão ligados a um reino sem fronteiras. Você busca nada menos que o próprio segredo da fonte da vida. Como você não consegue encontrá-lo, não é à toa que seu desapontamento e raiva do mundo possam ser tão grandes quanto suas aspirações. Dizem que esse último signo contém um pouco de todos os outros e ninguém é mais camaleônico que você.
Você tem uma fluidez e uma complexidade que podem ser encantadoras e enfurecedoras ao mesmo tempo. Há tantas pessoas dentro de você que os outros se perguntam quando o verdadeiro pisciano irá surgir e aparecer. Às vezes você demonstra uma estranha passividade ou inércia diante de uma crise. Tomar decisões significa escolher uma coisa em detrimento da outra e, para você, todas as escolhas têm um lado verdadeiro. Ver a relatividade da verdade é um grande dom, porque o torna tolerante e compassivo - ocasionalmente, incrivelmente relaxado.
Essa indiferença calma e sábia com a qual você encara as transgressões humanas não se aplica somente às suas próprias transgressões. Você consegue ficar sentado calmamente enquanto seu amante vai embora, suas crianças o insultam, seu chefe empilha insultos sobre sua cabeça e o proprietário de seu apartamento o despeja. Piscianos parecem aceitar o azar como se tivessem nascido com ele, esperá-lo e, até mesmo, dar-lhe as boas vindas. Mas vocês sabem algo que os outros signos não sabem: todo esse sofrimento humano tem pouco significado quando seus olhos e seu coração estão focalizados no grande Uno.
Peixes é o signo místico. É preciso admitir que há piscianos por aí que são quase uma caricatura do pensamento racional e científico. Esses são os peixes assustados com o caos de suas próprias profundezas. No entanto, mergulhando ainda mais fundo, você verá uma forte busca espiritual em cada pisciano, a menos que suas defesas sejam incrivelmente rígidas. E essa busca inclui a si mesmo. Isso não significa religiosidade de uma forma ortodoxa. É que você tem uma sensação intuitiva de outras realidades, algo mágico e evasivo, uma unidade transcendente que torna a rotina do dia-a-dia sem graça e sem sentido.
Você também tem um profundo conhecimento instintivo da futilidade de muitos desejos humanos. A ambição humana, as paixões poderosas, luxúria, egoísmo... essas motivações humanas simples geralmente não exercem muito poder sobre você. Lá no fundo, você não as leva tão a sério. Afinal de contas, como dizem no Oriente, isso é só maya - ilusão. Como é de um signo de água, você é profundamente sensível às correntes secretas que existem sob a máscara comum do comportamento humano.
É difícil enganar um pisciano. No entanto, enquanto outros responderão defendendo a si mesmos e acirrando ressentimentos, você olhará, verá, sentirá pena e perdoará. Muitas vezes você deixa que os outros se aproveitem de você, não porque é ingênuo, mas porque sente pena de todo o tipo de gente. Esse mundo material não é o verdadeiro para você; você segue um outro ritmo.
Você se move em um mundo onde todos os pensamentos e ações têm milhares de associações que se ramificam até o infinito e nada nunca é simples e claro. É difícil para você discriminar, limitar-se a si mesmo. Isso poderá levá-lo ao excesso, a alguns problemas sérios com comida, álcool, drogas ou à extravagância financeira. A compensação para essa falta de limites perturbadora é sua imaginação sem fim. Até mesmo piscianos extremamente defendidos e hiper- racionais têm essa faculdade maravilhosa escondida em si.
O mundo das artes e da ciência intuitiva (como a informática, a matemática pura e a física) está repleto de piscianos bem dotados. Dentro de si você carrega uma chave para o reino vasto e misterioso da psique inconsciente e isso lhe foi dado ao nascer como um presente. O problema é que, uma vez dentro dessas águas, você tem dificuldade de voltar. Lidar com a realidade mundana pode ser um verdadeiro problema para o pisciano. Embora sua intuição possa ser super rápida e seu intelecto brilhante, você muitas vezes não percebe algo simples, como o vencimento da conta de eletricidade.
Você também é um romântico incurável. Alguns piscianos têm muitas defesas para esconder essa tendência, mas você nasceu romântico e será sempre um romântico. E os romances não são só casos de amor. Você precisa de mágica e fica mais facilmente entediado que qualquer outro signo. As únicas coisas realmente consistentes em você são sua aliança com uma realidade maior e mais profunda e seu amor pela necessidade de mudança. Não importa o trabalho mais seguro, o status social mais convencional e o orçamento que garanta sua pensão na sua velhice: você os trocará todos por flores, a qualquer momento.
A clareza das suas ideias vai fazer você ganhar alguns fãs e você defenderá a sua causa com energia. Você tem confiança interior para enfrentar suas obrigações, mas você ainda pode relaxar.

Você está borbulhando com sentimentos benevolentes para com as pessoas ao seu redor. Sua vida emocional é mais importante do que qualquer outra coisa.

chama no ar

vai ter um tempo que vou ser certinho: casa, barba, cesta básica e camisa pólo.
Vai ter um tempo em que eu só vou beber suquinho e água de coco.
Vai ter um tempo dos cabelos cortes militares da infancia.


Vai ter um tempo em que eu vou dormir bem cedo, Tai Chi Chuan e musculação.
Vai ter um tempo do concurso público, plano de saúde, dentista e carro .
Vai ter um tempo em que as coisas estarão no lugar.


Vai ter um tempo em que ficarei tão chato com as tolices sobre drogas, sexo e malandragem
que irei passar tardes no cinema, jantar a luz de velas e viagens com dinheiro para qualquer lugar do mundo.

Vai ter o tempo da tanta chatice
Que se irão embora tantas gentes odores superfícies. 






fósforo

minha Lua negra

Lilith em Sagitário

O signo regido por Júpiter, que fala de estudos filosóficos, religiosidade, sabedoria e conhecimento, exibe a face sombria da Lua Negra nos comportamentos rebeldes e irresponsáveis. Você tem tamanha aversão à rotina e aos valores preestabelecidos que corre o risco de se lançar em aventuras perigosas e inconseqüentes. Nesse afã, também pode colocar de lado o senso de justiça tipicamente sagitariano. Suas dificuldades afetivas nascem do sentimento de não pertencer a lugar nenhum. Mas sua simpatia e seu carisma contagiam todos a seu redor, principalmente os que compartilham seu gosto por viagens e discussões filosóficas.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

LUZ VERMELHA

um dia quando eu for penas e bicos
escreverei sobre uma folha de papel
todas as araras do céus
ARARAPIRANGA
e meu corpo coberto de vermelho
afastara toda a adversidade dos incrédulos mortais
dos possessivos espíritos que circundam o meu habitat


E em mim todas as florestas, riachos, pedras e limo.
Minha caveira estampada na experiência da vida
e dentro de mim um templo zelando a minha superfície
eu escrevo o meu poema-xamãnico
ARARAPIRANGA.


E há de ser luz a sair dos olhos
palavra cortante, feixe, cintilância.
E da minha boca prosa, versos sujos
minha concepção borrada.
 A Anticonfiguração.
ARARAPIRANGA.


Este secreto  elixir da vida
ser quem quiseres ser.
hectoplasma livre da zona fantasma
fincando ganchos em territórios desconhecidos
meu plexo carne-osso
ombro- o mundo é meu
ARARAPIRANGA.


Vadio radiante pelo caos das ruas
topando nos paralelepípedos irregulares
e dos meus dedos burrifam
líquidos, ciclo, átrio
ARARAPIRANGA.


É preciso manchar
papéis, ruas, avenidas
É preciso violentar tantas claúsulas
O meu corpo paraíso tropical
equatorial - chuvas, suor, lágrimas
ARARAPIRANGA.


A passagem sendo feita
canoas, fogos, fumaça
minha cabeça reluzindo ouro
alterada quimicamente
adornada com penas.
ARARAPIRANGA


Contaminadamente infectado pela Historia
me locomovo por terras e ares,
sábio deslocamento para sobrevivência das espécies
Tantas peles panos e penas
Me descubro
transformando em bicho
ARARAPIRANGA.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

HILDA HILST


lampada acesa na madrugada

agora tu não tens mais tempo para a poesia
me disse o menino do de dentro de mim.
As tuas horas se passaram
e tudo se encobre de pêlos.

A tua mascara debochada
cadela noite, lua cheia
tantas falas e tu  te inseres nisso tudo.

E me vinha na cabeça a praticidade do tempo
a brincadeira do menino
em ter tempo ocioso
e ler revistas contemplar a natureza
e pensar mundos possíveis.

E tantas pessoas morrem quando te ocupas
de objetos e outras inutilidades
a vida um pulsar passageiro
de minusculas células
a explodirem e rapidamente apagarem

do aqui debaixo
os milhões de anos vividos
coisa perdida
 e modificada no espaço

E me vejo mais uma vez frente ao espelho
vigiando olhos cabelo
rugas e sinais da pele desgastada dos tempos

Precisas ganhar teu dinheiro
tua comida
escova teus dentes
me dizia alguma imagem disciplinadora
construir cidades templos muros e girassóis

tua luz inflama
e brilhas em outras galaxias
o sol indiscriminadamente iluminando tantos mundos
Escreve
o teu menino cochila.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014


XAMÃ
CABOCLO
ARARACANGA


VEIA
DECOMPOSIÇÃO
MISTÉRIO


CIRCULO
PEDRAS
PORAQUÊ


PELICULA
EFLORESCÊNCIAS
PLANETAS

CABELOS
DENTES
UNHAS

FUMAÇA
CHOCALHOS
VIDA



quinta-feira, 16 de janeiro de 2014


Um dia
quando eu aprender
a domar um búfalo selvagem
não terei mais medo do tempo.

Um dia
Quando eu seguras
as crinas de um cavalo
em mim só existirá valentia.

E serei eternamente aquele jovem insano beatificado pela vagabundagem de tantas madrugadas acordado andando como um gato enloquecido pelas ruas taciturnas das cidades.

 E toda essa bravura que reside aqui dentro inflamará novamente, praguejando contra os inumeros corpos que se deslocam ordinariamente pelas ruas ao meio dia.

Então eu definitivamente terei sossego

E então eu terei amor

Quando um dia
eu aprender
sobre bufalos , cavalos
eu poderei cavalgar - "cheio de mim"- em cima de um cavalo
entre os automoveis
no trafego de alguma megalopole caótica,em
 meio as buzinas e hostilidades dos motoristas embriagados de fumaça advindos da descarga de algum caminhão carregado de pixe . Quente. Abafado. Enlouquecedoramente caloroso, pronto para tampas os buracos das pistas e estradas.

Eu caminharei radiante debaixo de um tempestade avassaladora

Caminhando em direção as contra ventanias de um outono cinzento e sem frutas
Enrijecendo musculos

fortalecendo dentes e ossos.

Eu então descansarei
em uma rede qualquer que pendurada
nas ripas de um navio enferrujado me levara para terra qualquer

onde eu não possa mais ver a vulgaridade da dor da perda

Eu então semearei
a impermanência

agradecendo aos céus
os anos de porraloquice juvenil 

e a todas as ações rebeldes contra os sistemas normativos
E énosamente perceberei o tempo reinar
Absoluto sobre a pele o sistema psicomotor e o sexo.

Mas isso só um dia

Um dia quando eu aprender a cavalgar lascivamente um cavalo
quando eu conseguir despurodamente subir em cima de um bufalo silvestre.