quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Luzes no meio de uma noite escura

I

misseis sob a cidade
enluarada

cidade incendiada
pelas bombas vindas
de algum país imperialista

o sol chapando
os onibus ao pico
mais quente do ano

do lado de fora
não ha gastos
apenas o cigarro quente
ao meio dia

saudades de tantas coisas
de quando o mundo
falou de liberdade

andarilhos atravessando
fronteiras, as ruas ocupadas
de musica e fé

dias melhores
o agora se fazendo presente
o futuro acontecendo hoje

II

eles falam palavras
de agouro e agonia
o terror para compor cabeças

a minha imaginação
poderosa contra as mazelas
do mundo.

O medo, o terror
a mentira, disseminados
 como um Virus letal.

os mortos fuzilados
nas esquinas
zumbis implorando por vida
nos shopping centers

lá fora a floresta
unica especie viva de arvore
do mundo. Centenaria.

te vigiam e depois
uma invenção de
felicidade feita de cartões e
superfaturamento

Apenas uma casa
um barco ancorado
em alguma ilha

teu corpo, tua casa
e um repouso contra
as guerras

III

mas tu tens sangue raro
valentia de outros tempos
avatar de eras imemoriais

te pensas pequeno,
em meio aos escombros
e uma voz que nunca cessa.

retratos que incomodam
a sala de visitas
e os bons costumes

boca, punhos e rosto
pintados de vermelho
sempre há sangue

vida que insiste
nas fotografias estampadas
dos esquecidos que gritam

IV

valentes, inocentes
nunca morrem
rica ancestralidade

o corpo suado
sob a rede, odor de
agua de cheiro para imitar banhos

a gente dividindo o mesmo espaço
cama no chão, lençol
e depois nunca mais

um ensopado de carne
os vinte sentados
face a face nunca vista

há marcas e cicatrizes
no olhar. rosto de todos
Fúria, brasa mora.
Aproximo de fogo

V

nossas caras as mesmas
desde as grandes epidemias que
assolaram a humanidade

a gente segurando
forte, mãos sobre mão
resistindo
as piores tragedias do capitalismo

lucidos contra as artimanhas
da corrupção e deslealdade
dos grandes navegadores

Vigas sustentadas
como em antigas batalhas
pelejadas contra o nosso corpo firme

me beijas, teu olho
de fogo e desejo
abraçados olhamos as estrelas

VI

o mundo antes de nós
acima de nossas cabeças
iluminado, apenas o amor.

Lua secreta
guardiã de antigos ensinamentos
a cidade quente e as luzes sob a água.

Aviões, tanque
uma guerra silenciosa e
mesquinha contra a vida.

uma falsa fantasia
de que eles sabem oque é melhor
a miséria alimentando os ricos

me beijas, não há medo
e velhos paradigmas. Meu corpo
terra de amores e lutas.

nós abraçamos entre
os gases tóxicos. juntos
somos inbaláveis.




terça-feira, 15 de novembro de 2016

gambiarra

O céu do por do sol
de uma cidade amazonica
roxo, magenta, cor de fogo
pupila rosea no meio do céu
homem  saindo d'agua
olho de boto,cor de jambo
encarnado

O céu do por do sol
de uma cidade amazonica
me fita misteriosa por sobre
as matas verde clarissimas
escura querendo anoitecer
umida de rios e passaros
silenciosa

O céu do por do sol
de uma cidade amazônica
viadutos cortando a paisagem
pontes de concreto e abaixo
igapós, rios de esgotos
garças brancas em lamacais
lodoso

O céu do por do sol
de uma cidade amazônica
casca de tucumã
pupunha cozida as 5 da tarde
uma bandeira vermelha
tupinambá uma unica estrela
solitária

E então mergulha no bronze
ao fundo te banhas
e adormeces
lava, pedra dura
centro da terra
planetas em torno
teu coração pedaço de estrela

e anoitece quando me chamam
à porta, cintilancia estendida na mesa
Seda, cristal,cometa, feixe luminoso
papel de parede e palavras eróticas
te aproximas vestida de azul
indigo negro petroleo dos confins da terra

O céu sob o luar
de uma cidade amazônica
o dorso escuro de algum animal
do fundo dos rios manchado
arraias, poraquês jacarés-açus
circulo prateado refletido n'agua
Ùnico

o céu sob o luar
de uma cidade amazônica
os imensos arranhas céus
derrubando arvores centenarias
templo dos antigos povos
Samaumas, Seringueiras,Tauaris
Olvidado

o céu sob o luar
de uma cidade amazônica
uma imensa cobra sucuri observa
a briga entre canina e honorato
e te lembras da tua ancestralidade
filho de tapuias e cobra, Guamá
Circundando

o céu sob o luar
de uma cidade amazônica
banhos de rios, igarapés ao relento
a bica no quintal de casa, plantas
cheiro cheiroso depois do banho
para afastar panema e carapanãs
Abrigo.

E te aconchegas feito fogo
invadindo lugares fecundos
minha cama de palha no chão
uma rede esticada lembrando
o banzeiro nas embarcações
vindos do Acara trazendo
peixe e farinha

Os bichos falam dentro da mata
me abraças ao som da maré
e lá fora as crianças ainda brincam
a fogueira quente, fagulhas no ar
adormecemos mundiados
a cidade silencia entre as folhagens
Suspiro suado junto ao teu corpo quente.
Amanhã é outro dia.