quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Braseiro

Eu acendi um cigarro
Um lençol fino sobre o corpo
A varanda na noite fria de São João
Fumaça, as estrelas no céu radiantes
Entre fogos e o desejo de
que a juventude nunca acabe.

Minha vida pegando fogo
sobre o risco do fósforo
Um cigarro aceso
um dia a menos
E as crianças brincando
do outro lado da rua

Ao redor da fogueira
Para fazer estourar fogos de artificios
Faíscas que lembram estrelinhas
nas mãos dos meninos
que um dia eu também fui

O amanhã que nunca chega
sem o perigo do sexo
do corpo dilatado
pelas artimanhas do gozo
E da liberdade de se deixar
ser invadido por mãos desconhecidas

Dedos que adentram lugares
recônditos e vermelhos
Explosivo que não sabe ao certo
os dias de vida até aqui.

Casas de palha
o odor impregnado nas paredes do quarto
madeira exalando os tempos
Cometa rompendo o firmamento
contra qualquer abuso autoritario
sobre o desejo, a vontade
o corpo.

Objeto acenando de algum
lugar da Bahia
pegando fogo
Liberdade fulminante em cima
de um veludo azul escuro
e cintilante.
Há sempre perigo em tudo.

Uma vida que não poderia ser outra
Se das estrelas
antes de ser gente
coisa feita de pele e ossos
Ja se tinha conhecimento.

Sangue escorrendo pelas pernas
Toalha exalando suor, das guerras
de espadas nas noites de São João
em Cruz das Almas.


 Lembrança de tudo que já foi pólvora
e que um dia Estourou
até chegar aos meses da carne
Pedaço de couro queimado
ressoando as batidas
da palma da mão


Ondas de calor
vindas de alguma escuridão iluminada.
O centro do corpo no meio
do mundo.

A morte sempre vizinha
pairando em cima das chamas
da vela acesa
Nos setes dias de meditação
Silêncio no longo caminho
a percorrer entre luzes.

Até o lençol
cobrindo o sexo depois do gozo
E nunca houve medo
Nas constelações que alumiam
o manto sagrado
que reveste minha pele
de azul anil.

Ser de outrora
sempre iluminado
gases
destroços cósmicos
vagando pela via-lactea.

Apenas o cigarro aceso
braseiro
o sexo despido em frente
a janela dos prédios
e as luzes solitarias acesas

Rubra cor de apartamentos
lutando para ser
Como em algum dos dias
de milhões de anos luz
até aqui. O agora
sempre ardendo
Palavra fogo
Ilicita
a estourar planetas

Cauda de dinamites
e o olho a olho
da matéria sempre viva
rompendo os terrores do mundo

Dores de distintas leis que regem
o planeta
fagulha no ar desfazendo-se
em algum lugar na cidade
de Salvador
Estrela gente

E a lua brilhando silenciosa
por sobre os monumentos históricos
de lugares abandonados
mas que ao longe reluz
em noites de luar

Quem nasceu estrela
nunca vai ser coisa morta
nas sarjetas e avenidas
nos carnavais da cidade
nas ruas envenenadas e cheias
de maldade dos que querem
adoecer as gentes do mundo.

Os antigos casarões e
becos taciturnos e deteriorados
e que agora trepam 
com homens e mulheres
travestis embriagadas 
no romper da madrugada
braseiro na ponta do fumo

Fluidos corporeos
levados pelas águas nos 
dias de julho na cidade
do Salvador. Luz.Todos os Santos.

Crianças contaminadas pelo
prazer do baixo ventre
dos jovens apaixonados
nas noites de São João.
Toda invenção para fazer matar
pessoas que brincam em dias
de festa e folia.
Sobre o sexo, o gozo e a mentira
que mata. Brasa.
Querência.

A vida é um pavio.
Bomba caseira em dias juninos,
perigosa e cheia de alegria
Queimando continuamente nos céus
e aqui embaixo
terra seca e batida.

Licor para esquentar
e alumiar a noite fria
Explosivo,
fogo que irradia
pela quentura dos corpos
que teimam em exisitr.
Braseiro. Nunca apaga.

Faísca
na ponta do cigarro aceso
depois do sexo.
Estrela brilhando
no São João
refletindo as margens do Paraguaçu.

O galo cantando
anunciando novo dia.
Um cometa passageiro
e enérgico, ardendo
aguardando a rebentação
pulverizar em pequenas
particulas de agua fervente
ebulindo no ar
tal qual lava quente.

Enchendo de 
curiosidade e espanto
crianças e anciões
em alguma cidade da Bahia.