domingo, 5 de junho de 2011

À luz das velas: causos da cidade da floresta

Matinta Perera

Em Belém, lá na Amazônia, existe a história de uma velha que sai de porta em porta de manhã bem cedo, recolhendo sacos de tabaco nas portas das casas, ou chamando a moradora pedindo-lhe para tomar café. Eu conheci várias delas, eu mesmo as vi... Certa noite, na casa de dona Birica, escutou-se por cima do telhado da casa, um grunhido de pássaro que parecia rasgar os ouvidos, de tão alto.

– Viva os noivos! – grita a velha. E no outro dia pela manhã bem cedo, dona Guajarina grita:

– Ó vizinha, o´Birica... tá um cheirinho de café gostoso – Birica desconfiava há tempos que a velha Guajarina fosse a tal falada Matinta Perera. E por isso mesmo serviu o café quentinho.

– Estar em dia com nossas obrigações é importante pro juízo.

– Tens razão, mana

– E tu sabes muito bem, né mana, que comigo está tudo bem.

As duas continuavam a conversar. Acabou-se o café, e dona Guajarina foi pra casa. Birica continuou em casa, lavou muitas roupas, a maioria delas branca. Torceu e colocou-as pra secar no quintal abafado e úmido.

– As casas de madeira são as melhores, qualquer problema, infiltração é só tirar a tábua colocar outra. Alvenaria não – E no decorrer do pensamento um rasgo...

RASGA – MORTALHA.

MATINTA PERERA.

A VELHA AVE VELHA.

VELHA AVE. RASGO.

DOR NO PEITO. FURO.

O ENCANTAMENTO:

– VIVA... AOS...

DOIA O PEITO.

AGOURO.

MALDITA AVE.

Birica pensou no café. No tabaco.

Porque se perdeu no pensamento? Se deixou levar pelas inutilidades das coisas?

A casa. A madeira. No exato momento do grito!

E estava tudo nos conformes, nas obrigações.

A DOR. TOSSE. ROUPAS VERMELHAS.

Birica sem ar...

– Agourenta. Ave maldita!

BIRICA NO CHÃO.

A BOCA DE SANGUE SEM AR.

– Agourenta. Ave maldita!

MATINTA...

MATINTA PERERA.

pensamentos em caixa de fosfóro

levantar...
cair,
antes mesmo do tropeço...o chão...
cair,se levantar e depois cair e levantar...
o chão a cara os ossos minha pele arranhada....batidas no chão...

a caida de bicicleta...o jambeiro...os patins...
levar uns cascudos...umas chineladas ...uns puxões de orelha era tão comum era tão faz parte...
e agora o medo do chão...e de tudo ...do espatifamento feito goiaba madura no chão...
as coisas caem nas horas certas...

caligula caiu,os otomanos ,os egipcios,os babilonicos e tantas tantas quedas o muro de berlim...a muralha da china não...
o que não cai se deteriora...

cair se levantar levar uns arranhões...

cair se levantar levantar cair...
a minha internet,a ligação interrompida no meio dos eu te amos e doçurinhas...

o que não cai se deteriora,foi por isso que na manhã de uma quinta -feira ela se jogou da janela do quinto andar...

o que nao cai precisa cair...