Matinta Perera
Em Belém, lá na Amazônia, existe a história de uma velha que sai de porta em porta de manhã bem cedo, recolhendo sacos de tabaco nas portas das casas, ou chamando a moradora pedindo-lhe para tomar café. Eu conheci várias delas, eu mesmo as vi... Certa noite, na casa de dona Birica, escutou-se por cima do telhado da casa, um grunhido de pássaro que parecia rasgar os ouvidos, de tão alto.
– Viva os noivos! – grita a velha. E no outro dia pela manhã bem cedo, dona Guajarina grita:
– Ó vizinha, o´Birica... tá um cheirinho de café gostoso – Birica desconfiava há tempos que a velha Guajarina fosse a tal falada Matinta Perera. E por isso mesmo serviu o café quentinho.
– Estar em dia com nossas obrigações é importante pro juízo.
– Tens razão, mana
– E tu sabes muito bem, né mana, que comigo está tudo bem.
As duas continuavam a conversar. Acabou-se o café, e dona Guajarina foi pra casa. Birica continuou em casa, lavou muitas roupas, a maioria delas branca. Torceu e colocou-as pra secar no quintal abafado e úmido.
– As casas de madeira são as melhores, qualquer problema, infiltração é só tirar a tábua colocar outra. Alvenaria não – E no decorrer do pensamento um rasgo...
RASGA – MORTALHA.
MATINTA PERERA.
A VELHA AVE VELHA.
VELHA AVE. RASGO.
DOR NO PEITO. FURO.
O ENCANTAMENTO:
– VIVA... AOS...
DOIA O PEITO.
AGOURO.
MALDITA AVE.
Birica pensou no café. No tabaco.
Porque se perdeu no pensamento? Se deixou levar pelas inutilidades das coisas?
A casa. A madeira. No exato momento do grito!
E estava tudo nos conformes, nas obrigações.
A DOR. TOSSE. ROUPAS VERMELHAS.
Birica sem ar...
– Agourenta. Ave maldita!
BIRICA NO CHÃO.
A BOCA DE SANGUE SEM AR.
– Agourenta. Ave maldita!
MATINTA...
MATINTA PERERA.
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