terça-feira, 25 de novembro de 2014

lampada 25

Uma febre rasa me pegou de jeito.
Os pes descalcos sobre o assoalho gelado da casa.

Um bonde passando todos os dias no mesmo lugar.
O sol nascendo para mim e  para os milhoes de insetos.

Eu precisava dormir e aquecer as maos. Um sono para encarar os dias do amanha.
Fazer valer os livros lidos na estante. A poesia escrita sobre a seda fina da existencia.

A febre que me faz imaginar as muitas gentes espalhadas pelo mundo. Os refrigerantes servidos no jantar, a carne de porco assada com alecrim e suco de abacaxi.
E em algum lugar do mundo, um vegetariano passando mal, a cada mordida no pedaco de bisteca. A dona Gloria chupando os ossos. Eu existindo aqui e la. De costas para o banheiro, mirando a poeira se movendo sobre a luz. O sol bonito sobre as folhas verdes do capim santo,  da erva cidreira, e dos tamba tajas. Esse momento necessario de febre e calafrios. Eu querendo dormir, para acordar.
Eu sei, isso nao e doenca. O sangue palpitando. A-ra-ra-pi-ran-ga. tum tum tum. O tic tac tic tac, e a agua fria esfaqueando a pele, o gato defecando em todos os lugares inapropriados.
As pessoas com tao poucos dentes na boca sorrindo às estrelas. E tanta gente acreditando nas suas certezas de ser diferente do mundo. As alegorias mal bordadas, e as mascaras borradas num festejo tipicamente popular. Assim e que esta bonito. Comer sorrir agradecer morrer. E os muitos se magoando pela primeira observacao de uma fotografia nao revelada. Angustiados pela falta de alguma droga que os alivie do tum tum tum tic tac tic tac dos dias. Isolando-se do mundo e da esperanca de boas companhias por conta de comentarios tolos e pueris. Reclamando da comida fria, do cafe ralo, das muitas cebolas em cima da salada de alface.
O sol queimando indiscriminadamente para todos. Para as borboletas.
 A vida, um pavio curto. E a existencia se desfazendo ao amanhecer do gafanhoto. Eu rindo de tudo. Do absurdo e da bonitez dos meus pelos do peito, dos apito de madrugada, das cascas de fruta apodrecendo no quintal. Das pessoas correndo para o trabalho.
E  o hoje terminando mais uma vez.
Amanha o sol. Queimando tudo de novo. E havera quem se irrite com tudo isso. E havera quem maldigue o peixe com espinha. E havera quem se sinta decepcionado. E havera quem se deixe perturbar pelos pensamentos. O sol continuando a arder para mim para as gentes e para as mariposas. E ainda assim havera gente dizendo que eu sou pessima companhia. Mas mesmo assim indiscriminadamente o sol continuara aquecendo. Eu continuarei rindo.  Continuarei sonhando. Olhando as estrelas. Agradecendo mais uma oportunidade de receber o sol na  janela. Admirando a absurdez e boniteza da existencia.

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