domingo, 29 de junho de 2014

das zonas abissais há um peixe iluminado

Ao longo da vida a gente ama um monte de gente. E é gostoso a sensação de amar alguém, de se ter um amante amado...Mas ae eu fico pensando na dó, na dorzinha que isso provoca, quando se tem expectativa. Quando a gente ama dá vontade de a gente viver aos milhões de anos com a pessoa, e isso são horas dias semanas e todos os milésimos de segundo convivendo coladinho, atado feito bicho hibrido em um unico corpo. Androgino. Eu mesmo ja amei alguns que pela minha vida passaram, e todos eu me lembro.
Mas de todos houve um que viu o meu olho ardente de fúria, de pavor, de insanidade. Houve um que me fez chorar madrugadas inteiras, que me tirou o sono, que me fez chorar feito nenem sem mãe, sem peito. E percebi esse amor usurpador cheio de cólera, de paz também, mas sobretudo de uma grande estranheza.
Que dó dava de mim, que raiva que estupor. Quantas palavras cortantes e pupilas dilatadas querendo estrangular gargantas, cuspir caras, desaparecer na multidão. Que dorzinha, feito aparelho de barbear. E depois estanca, depois de séculos adormecido, vagueando num sonho em que as coisas todas se repete. Ah o amor, essa palavra, esse palavreado que inventaram e colocaram na boca das gentes, e na escrita de tantos poetas mortos. Ah o amor...e agora essa brisa fresca, uma outra mão que me toca, acaricia a cabeça e me chama de amor...ahhhh quanto amor e quanta formosura. E isso me dá uma dózinha...porque a expectativa de se viver séculos e ser imortal pulsa, e a gente não quer largar. Mas agora tem-se a clareza de que tudo se vai, mesmo criando expectativas...construindo casas, bosques, mirando luas. Agora tem-se a sabedoria de um amor agua liquido, concentrado e fluido. Tal como as aguas...tal como a vida tem de ser.

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