O menino atrás da porta
O jardim com suas ervas daninhas
Uma casa de madeira em cima do rio.
Ele tem um par de mãos
que de manhã bem cedo lava os pratos da pia
corta a cebola e começa a chorar
O menino é uma passagem para pessoas e gatos
uma carroça parada em um giramundo carrossel.
Gangorra solitária no parque de diversão
Lábios em fogo chupando um pirulito
Cavalgando e um cavalo lindo correndo pelos campos.
O menino ofereceu o corpo ao trabalho pesado
carregou o cimento e a indignidade das pessoas desonestas
dentro das suas casas seus dentes e unhas por um prato de comida
E nunca sentiu tanta fome
e agora as trouxas de roupas para serem lavadas
Pesadas e encardidas.
Tanta sujeira em cima dos corpos e o menino com seus olhos observando lentamente
o sangue empoçando pela casa para alimento das bactérias
é preciso muita espuma para remover toda ingratidão.
Uma casa como pensamento
o botijão de gás e já faziam trinta dias
água e biscoito de sal
O menino parado olhando a lagartixa comendo as moscas e formigas
Nunca sentiu tanta fome.
Tudo isso girando em seu próprio eixo, durante os trezentos e sessenta e cinco dias
de vida após vida. O sorriso na cara em meio as divergências do existir.
O menino insistindo nas lampadas de piscar penduradas na parede
e nem chegou o natal. O sol arde lá fora.
O corpo frágil do menino adormecendo no sofá
Tudo na vida tem um propósito. Será?
As zabumbas e os trompetes na rua.
Um montão de coisas para realizar.
O menino pensa, cria os mundos
sonha, maqueia a cara para ver um mundo diferente
sua cara na esquina. Um montão de coisas para se materializar.
A geladeira vazia e os pensamentos brotando da pia.
O cheiro da carne e arroz no vizinho
As pessoas apressadas no trabalho
um sol que se poe e o outro que nasce,
Os pães quentinhos com margarina e mortadela
O menino pensa em como é bom ter dinheiro,
comprar o folhado do supermercado
beber um suco concentrado de fruta
as poesias incompletas, desenhos em cima da escrivaninha
A vontade do ovo estalado
Pessoas sendo dominadas em tantos lugares
por pastéis e pizzas, uma moqueca de camarão bem suculenta
e os que tem fome tem muita pressa. Por que a vida precisa continuar.
E as imagens aos montes na cabeça
Impossível raciocinar com a barriga vazia
criasse uma diversidade de estranhas realidades
Cola,craque
o sexo barato e as humilhações durante os café da manhã e o almoço nas casas de família
O menino sorri. A cigarra canta uma próxima estação. Mas a dispensa continua oca.
Um vestido vermelho, os homens vestidos de mulher cantando à felicidade.
O menino sorri
tinta por sobre os papéis,
as grandes ideias para ganhar dinheiro
Tudo é possível quando se tem liberdade
O menino desenhando os quatro cantos do mundo
Um Adão pelado com a testa iluminada
gente entrando e saindo de dentro da barriga de um coelho
é preciso manter-se fiel a si mesmo, pensa o menino.
Sonhos, a cabeça latejando, a vida não falha
Nunca, nunca sentiu tanta fome o menino.
Ele nunca, nunca sentiu tanta fome.
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